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Geral Rodízio de veículos

Novo rodízio afeta motoristas de aplicativo e trabalhadores noturnos

Restrição é polêmica por valer nas 24 horas em toda cidade de SP e permite circulação em dias pares e ímpares de acordo com placa do veículo.

09/05/2020 11h32 Atualizada há 4 anos
Por: Redação Fonte: R7
Mesmo durante quarentena, há trânsito em vias da cidade como a Radial Leste. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO - 07/05/2020.
Mesmo durante quarentena, há trânsito em vias da cidade como a Radial Leste. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO - 07/05/2020.

Muitos trabalhadores foram surpreendidos com a decisão da Prefeitura de São Paulo de endurecer as regras do rodízio de veículos na cidade durante a pandemia do novo coronavírus. Motoristas de aplicativo de transporte e funcionários noturnos estão apreensivos e temem perdar ainda mais a renda.

Só poderão circular em dias ímpares, veículos com placa final ímpar (1,3,5,7,9), e, em dias pares, os que tiverem dígitos pares (0,2,4,6,8). A restrição vale em todas as vias da capital durante 24h, todos os dias, inclusive finais de semana e feriados.

Adalberto Alves trabalha 12 horas por dia nos sete dias da semana como motorista de aplicativo. Com a nova regra, ele poderá, a partir de segunda-feira (11), apenas circular dia sim dia não na capital paulista, de acordo com a placa do veículo. Ele trocou de carro recentemente e diz que já vê problemas para pagar as contas. "Trabalho todo dia para ver se consigo fazer o dinheiro das despesas, seguro do carro e a parcela do veículo. Agora, em uma semana, vou trabalhar quatro dias e na outra três. Vai ficar muito complicado", destacou. 

Ele acredita que a medida vai sobrecarregar o transporte público e revela que muitos passageiros que usam os aplicativos não pagam na hora: "O povo está sem dinheiro. Tenho feito muitas corridas em favelas. Um dos aplicativos dá a opção para pagamento depois. Tomara que agora tenha mais viagens com o rodízio, mas acho difícil". 

O decreto que institui o rodízio foi publicado nesta sexta-feira (8) com algumas alterações. Estão fora da restrição carros particulares de agentes da segurança pública, fiscais da fazenda, profissionais da imprensa, trabalhadores do serviço funerário e da assistência social, além dos profissionais de saúde. A liberação será feita mediante um cadastro feito pela empresa na Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, com informações do trabalhador e do veículo. 

O autônomo poderá fazer o próprio cadastro, se tiver comprovante de registro profissional. Mas até agora não foram divulgados os detalhes de onde fazer o credenciamento para obter a isenção. É o caso do fotojornalista, Paulo Lopes, que trabalha como freelancer com o veículo particular: "Estou tentando me cadastrar na Secretaria de Transportes, mas não existe ainda um local para isso. Uma zona".

Se ele não conseguir a liberação do rodízio, não pretende se arriscar no transporte público. "Eu não vou me colocar em risco, pegar a linha vermelha do metrô lotada, já que moro na zona leste, para fazer pauta. O assunto tem que ser muito bom, muito quente, para que eu gaste com aplicativo de transporte porque vou pagar sem saber se vou ter retorno", explicou Paulo.

Com a volta do rodízio na cidade, a expectativa da prefeitura é reduzir o fluxo de veículos pela metade. Segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), a medida é mais uma das ações para tentar aumentar o isolamento social, que hoje é menor do que 50%, quando o ideal seria 70% para barrar a propagação do coronavírus.

"O rodízio será mais restritivo porque questões extremas exigem medidas extremas. Não dá pra gente não adotá-lo quando a ocupação dos leitos de UTI passa de 80%", enfatizou Covas.

Quem desrespeitar a norma, será multado. O limite é de uma por dia. O prefeito afirmou que os recursos arrecadados com as infrações de trânsito serão usados no combate à covid-19 e ressaltou que, se a cidade chegar a pelo menos 60% de isolamento, poderá haver a suspensão do rodízio. Para atingir esta taxa, ele defendeu o home office.

Trabalhadores noturnos da coleta de lixo pedem isenção do rodízio. Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

Trabalhadores noturnos

Quem trabalha à noite está preocupado em não conseguir chegar no serviço ou voltar para casa depois de uma exaustiva jornada de trabalho, já que o rodízio vale também nas madrugadas. Márcio Mingote de Oliveira está há 15 anos na Ecourbis, empresa que faz a coleta de lixo na cidade. Ele é motorista do caminhão das 18h15 até quase 2h da manhã. Ele e os outros três colegas da equipe usam o carro particular nos deslocamentos.

"Não tem condução na madrugada e é perigoso. O carro é mais seguro. Até agora não deram opção. A empresa já fez um cadastro com a placa do nosso carro e Renavam. Pego dois ônibus para trabalhar, agora a volta só Deus sabe", ressaltou Márcio.

O motorista espera que a empresa consiga reverter a situação e teme demissões. "Já estamos em risco nas ruas apesar de a empresa dar máscara e álcool em gel, agora vamos ter o risco da condução? Tem que resolver porque, se não arrumar, vão ser 80 caminhões de lixo a menos na rua e podemos perder o emprego por não chegar no trabalho", alegou Márcio Mingote.

Paulo trabalha de máscara na coleta de lixo em São Paulo. Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

A situação é ainda mais complicada para Paulo Novaes de Lima, que também trabalha como motorista na coleta de lixo, mas mora em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. "Eu vou de carro, saio num dia par e volto no dia ímpar. Como fazer para atender a norma? O último ônibus é por volta de meia-noite. Como vou fazer para voltar para casa? Não só eu, como vários colegas da região metropolitana. Ficar na rua na madrugada até 4h40?", cobrou.

Paulo Novaes destacou que a coleta de lixo é um serviço essencial durante a quarentena. Ele diz que cerca de dois mil funcionários noturnos terão o mesmo problema a partir de segunda. "Situação complicada porque a empresa depende de nós, e nós do serviço. Como ficaria a cidade sem coleta?".

Isenção do rodízio

Algumas categorias e serviços podem circular apesar do rodízio. São isentos de restrição motocicletas, viaturas da polícia e bombeiros, Forças Armadas, Defesa Civil, veículos usados em serviços essenciais como abastecimento, gás, água, energia, obras, Correios, coleta de lixo, transporte escolar e coletivo, guinchos e ambulâncias.

O rodízio não vale para táxis, VUC (Veículo Urbano de Carga), veículos usados no abastecimento de farmácias, mercados, feiras livres, açougues, quitandas, lojas de conveniência, de venda de água mineral, padarias e lojas especializadas em artigos médicos.

O empregador deve fazer um cadastro para liberar das restrições os pesquisadores da área da saúde, agentes que executam serviços administrativos, guarda, segurança, vigilância, manutenção e limpeza de estabelecimentos hospitalares, de assistência médica e laboratoriais.

Segundo o decreto, pessoa com deficiência física, que tenha doença crônica que comprometa a mobilidade ou que esteja em tratamento de quimioterapia e quem as transporte ficam fora do novo rodízio.

O outro lado

Procurada pela reportagem na sexta-feira (8), a prefeitura de São Paulo ainda não informou como se dará o cadastramento dos profissionais de imprensa, agentes da polícia, entre outras categorias isentas do rodízio, ou como devem agir motoristas de caminhão de coleta de lixo que ainda não sabem como voltar do trabalho. O decreto não cita a sobre essa categoria ou faz referência aos trabalhadores noturnos. 

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